quarta-feira, 27 de abril de 2011
Repercussão do Festival de Curitiba
foto de Lenise Pinheiro.
Nós da CiaSenhas estamos felizes com o resultado da terceira temporada do "Homem Piano", no dia Nove de Abril o espetáculo completou 54 apresentações. Os resultados foram positivos, todas as apresentações feitas com a nossa capacidade máxima de vinte pessoas pro espaço, e críticas do espetáculo foram veiculadas em blog´s e jornais, postaremos a seguir as criticas e os links das matérias
Curitiba – Homem piano – uma instalação para a memória de Valmir Santos
O branco é associado à paz. O branco dá medo. É a cor dominante no espaço da CiaSenhas de Teatro, no centro velho de Curitiba, onde o taxista não quis me deixar porque “lá não tem teatro, lá só tem boca de fumo”, parando três quadras antes, irredutível. Não é desse medo hostil da defensiva, mais pavoroso do que os possíveis agentes, de que trata Homem piano – uma instalação para a memória, com duas sessões diárias programadas no Fringe até sábado. O roteiro tem a ver com esvaziar o HD pessoal das culpas que não são esquecidas, remoendo a impossibilidade do branco, o medo de preencher e ser preenchido. O eu e o ele de Luiz Bertazzo guiam os visitantes nesses entremeios. Desde a rua de paralelepípedos, a São Francisco, o performer fala ao microfone trechos da composição Lenda do pégaso, de Jorge Mautner, sobre o passarinho feio que virou cavalo alado na mitologia grega. “Pegue as mágoas e apague-as”, diz um verso.
Uma vez lá dentro, o visitante lida com dispositivos como a folha em branco e uma apropriação cênica da arquitetura do prédio que propõe trajetória de sensações táteis e acústicas. Esses elementos típicos da instalação soam secundários comparados ao ímã do texto de Sueli Araujo, a diretora. A narrativa é matricial em sua geração de imagens e na maneira como Bertazzo rastreia o visitante pelos olhos – um ator multipolar cada vez mais seguro. São esse olhar magnetizante e esse contador, bom de prosa, aberto ao improviso e com timming coeso no ato de não-representar, os corresponsáveis pelo público acessar afetividades, alguns em comoção, a partir do relato familiar e do conflito redivivo expostos de modo particular.
Naquele beco com saída, miolo da cidade, a CiaSenhas busca realizar um trabalho de acolhimento do público, de aproximação. O homem piano desterritorializa o dentro e o fora, abre a janela e lança indagações existenciais noturnas aos passantes. Coloca os visitantes diante da vidraça que mostra as salas do estabelecimento de ensino em frente. Será que a disciplina está lá e o caos, aqui?
Ao raciocinar sobre o sentir, a instalação responde mais ao mobilizador jogo de ideias coladas ao imaginário do coração, seu resíduo paradoxalmente dramático, do que expande o plano corporal nas relações de tempo e espaço com os visitantes. A recorrência com que o performer sinaliza para que todos fiquem “à vontade” é um indício.
A troca se efetiva em parte do público que, ao final, se prontifica a registrar suas lembranças para o “viajante” encarregado da expedição.
Jornalista hospedado a convite da organização do Festival de Teatro
08/04/2011
http://teatrojornal.com.br/blog/2011/04/curitiba-homem-piano-uma-instalacao-para-a-memoria/
Uma vez lá dentro, o visitante lida com dispositivos como a folha em branco e uma apropriação cênica da arquitetura do prédio que propõe trajetória de sensações táteis e acústicas. Esses elementos típicos da instalação soam secundários comparados ao ímã do texto de Sueli Araujo, a diretora. A narrativa é matricial em sua geração de imagens e na maneira como Bertazzo rastreia o visitante pelos olhos – um ator multipolar cada vez mais seguro. São esse olhar magnetizante e esse contador, bom de prosa, aberto ao improviso e com timming coeso no ato de não-representar, os corresponsáveis pelo público acessar afetividades, alguns em comoção, a partir do relato familiar e do conflito redivivo expostos de modo particular.
Naquele beco com saída, miolo da cidade, a CiaSenhas busca realizar um trabalho de acolhimento do público, de aproximação. O homem piano desterritorializa o dentro e o fora, abre a janela e lança indagações existenciais noturnas aos passantes. Coloca os visitantes diante da vidraça que mostra as salas do estabelecimento de ensino em frente. Será que a disciplina está lá e o caos, aqui?
Ao raciocinar sobre o sentir, a instalação responde mais ao mobilizador jogo de ideias coladas ao imaginário do coração, seu resíduo paradoxalmente dramático, do que expande o plano corporal nas relações de tempo e espaço com os visitantes. A recorrência com que o performer sinaliza para que todos fiquem “à vontade” é um indício.
A troca se efetiva em parte do público que, ao final, se prontifica a registrar suas lembranças para o “viajante” encarregado da expedição.
Jornalista hospedado a convite da organização do Festival de Teatro
08/04/2011
http://teatrojornal.com.br/blog/2011/04/curitiba-homem-piano-uma-instalacao-para-a-memoria/
Metaformose/Homem Piano/Oxigênio - Nelson de Sá
Houve um tempo em que a classe teatral de Curitiba se mobilizava contra o privilégio às peças de São Paulo e Rio no festival. Aos 20, não é mais assim, pelo contrário. O teatro paranaense tomou seu espaço na programação. Companhias que deixaram a cidade e o Estado tomaram São Paulo e Rio.
E o festival, hoje majoritariamente uma mostra paranaense, ainda que sem perder a diversidade nacional que o caracteriza desde o princípio, deve sua regularidade elevada de qualidade ao sem-número de produções locais.
Mal desci do avião e fui assistir a uma, duas, três peças de companhias paranaenses, com Café do Teatro no intervalo. Talvez pela data redonda do aniversário, o espírito é outro por toda parte. Curitiba confirma sua decadência urbana, com traços que remetem até à Cracolândia, mas a arte persiste e brota.
Quando a produção não é das maiores, caso de "Metaformose", adaptada com alguns exageros e dirigida por Edson Bueno da novela/poema de Paulo Leminski, a interpretação carrega. Foi uma boa maneira de começar, na fantasia do curitibano Leminski.
Cenário, figurinos e vídeos são de doer, falhas técnicas foram a regra do começo ao fim, mas o elenco está afinado e não se perde. O texto por vezes se excede no didatismo ou no burlesco, mas nada que dure muito. Dosa humor e, quando pesa no drama, só faz bem.
Alguns dos atores já estão prontos, e todos os cinco se saem dignamente. (Para registro, a plateia contava não menos do que quatro observadores da Globo. Não chega a ser novidade no festival, mas indica como o teatro paranaense avançou sobre a indústria cultural de São Paulo e sobretudo Rio.)
Zé Celso, que participou da primeira edição com "As Boas", em que fui assistente, dizia que Curitiba é a cidade brasileira mais moralista -acho que o adjetivo era reacionária. Esteticamente, não é mais assim. Escrita e dirigida por Sueli Araújo, "Homem Piano" é prova.
Com um único performer, Luiz Bertazzo, envolve seu público limitado desde antes da entrada, na pequena rua de paralelepípedos. Antes fala, conversa, do que representa. Pergunta de pais e mães, pede uma memória que se queira esquecer, a ser escrita como um bilhete -que em seguida tritura num velho liquidificador.
Sobe as escadas da sede da companhia e se apresenta, não como um ator com uma história, mas alguém para escutar a memória de cada um, que pode ou não contá-la a um microfone no final, tendo ele como único ouvinte. Pelos três andares brancos e quase vazios, uns poucos estímulos à lembrança -sobretudo na voz do ator.
É emocionante, um exercício não sobre o público, mas sobre cada mente no público. Nada violento, pelo contrário; um passo que cada um se permite, se quiser. É uma instalação ou performance, mais do que teatro.
Como dramaturgia, "Oxigênio" foi o mais enriquecedor. Apresenta um autor russo, Ivan Viripaev, que até onde sei jamais foi montado no Brasil. A exemplo de Aleksandr Gálin, de "Casting", montada em São Paulo, retrata uma Rússia muito diversa daquela de Tchecov ou Bulgákov -ou mesmo Dostoiévski e seus niilistas, referenciado no texto.
É corrosivo, cético consigo mesmo. Pelo que li, foi uma das descobertas de Declan Donnelan, o célebre diretor de "As You Like It" e "Angels in America", no mergulho que fez na Rússia na última década. Descortina um teatro russo que ameaça, aos poucos, voltar à grandeza, junto com a própria nação.
A encenação de Márcio Abreu, aparentemente, vislumbra essa esperança no texto e a expõe no cenário, dos mais expressivos que vi -a vida, na forma de jardim, toma o lugar do piso negro do palco.
E a escolha de um guitarrista para dialogar em música com a emoção dos intérpretes tem instantes de beleza chocante. São apenas duas das muitas impressões que o espetáculo deixa, com palavras, "mise en scène" e os atores Patrícia Kamis e Rodrigo Bolzan.
PS - Christiane Riera já escreveu de "Oxigênio", aqui.
Escrito por Nelson de Sá às 23h54
04/04/2011
http://cacilda.folha.blog.uol.com.br/arch2011-04-01_2011-04-30.html
E o festival, hoje majoritariamente uma mostra paranaense, ainda que sem perder a diversidade nacional que o caracteriza desde o princípio, deve sua regularidade elevada de qualidade ao sem-número de produções locais.
Mal desci do avião e fui assistir a uma, duas, três peças de companhias paranaenses, com Café do Teatro no intervalo. Talvez pela data redonda do aniversário, o espírito é outro por toda parte. Curitiba confirma sua decadência urbana, com traços que remetem até à Cracolândia, mas a arte persiste e brota.
Quando a produção não é das maiores, caso de "Metaformose", adaptada com alguns exageros e dirigida por Edson Bueno da novela/poema de Paulo Leminski, a interpretação carrega. Foi uma boa maneira de começar, na fantasia do curitibano Leminski.
Cenário, figurinos e vídeos são de doer, falhas técnicas foram a regra do começo ao fim, mas o elenco está afinado e não se perde. O texto por vezes se excede no didatismo ou no burlesco, mas nada que dure muito. Dosa humor e, quando pesa no drama, só faz bem.
Alguns dos atores já estão prontos, e todos os cinco se saem dignamente. (Para registro, a plateia contava não menos do que quatro observadores da Globo. Não chega a ser novidade no festival, mas indica como o teatro paranaense avançou sobre a indústria cultural de São Paulo e sobretudo Rio.)
Zé Celso, que participou da primeira edição com "As Boas", em que fui assistente, dizia que Curitiba é a cidade brasileira mais moralista -acho que o adjetivo era reacionária. Esteticamente, não é mais assim. Escrita e dirigida por Sueli Araújo, "Homem Piano" é prova.
Com um único performer, Luiz Bertazzo, envolve seu público limitado desde antes da entrada, na pequena rua de paralelepípedos. Antes fala, conversa, do que representa. Pergunta de pais e mães, pede uma memória que se queira esquecer, a ser escrita como um bilhete -que em seguida tritura num velho liquidificador.
Sobe as escadas da sede da companhia e se apresenta, não como um ator com uma história, mas alguém para escutar a memória de cada um, que pode ou não contá-la a um microfone no final, tendo ele como único ouvinte. Pelos três andares brancos e quase vazios, uns poucos estímulos à lembrança -sobretudo na voz do ator.
É emocionante, um exercício não sobre o público, mas sobre cada mente no público. Nada violento, pelo contrário; um passo que cada um se permite, se quiser. É uma instalação ou performance, mais do que teatro.
Como dramaturgia, "Oxigênio" foi o mais enriquecedor. Apresenta um autor russo, Ivan Viripaev, que até onde sei jamais foi montado no Brasil. A exemplo de Aleksandr Gálin, de "Casting", montada em São Paulo, retrata uma Rússia muito diversa daquela de Tchecov ou Bulgákov -ou mesmo Dostoiévski e seus niilistas, referenciado no texto.
É corrosivo, cético consigo mesmo. Pelo que li, foi uma das descobertas de Declan Donnelan, o célebre diretor de "As You Like It" e "Angels in America", no mergulho que fez na Rússia na última década. Descortina um teatro russo que ameaça, aos poucos, voltar à grandeza, junto com a própria nação.
A encenação de Márcio Abreu, aparentemente, vislumbra essa esperança no texto e a expõe no cenário, dos mais expressivos que vi -a vida, na forma de jardim, toma o lugar do piso negro do palco.
E a escolha de um guitarrista para dialogar em música com a emoção dos intérpretes tem instantes de beleza chocante. São apenas duas das muitas impressões que o espetáculo deixa, com palavras, "mise en scène" e os atores Patrícia Kamis e Rodrigo Bolzan.
PS - Christiane Riera já escreveu de "Oxigênio", aqui.
Escrito por Nelson de Sá às 23h54
04/04/2011
http://cacilda.folha.blog.uol.com.br/arch2011-04-01_2011-04-30.html
Dor de Lembrar - Guga Azevedo
A montagem local Homem Piano – Uma Instalação para a Memória (foto) está em sua terceira temporada de apresentações e é uma das gratas surpresas do Fringe. O monólogo, escrito e dirigido por Sueli Araújo e orquestrado por Luiz Bertazzo, apresentado até o dia 9 na CiaSenhas de Teatro, é um convite ao percurso da memória. Ou a ausência dela. O personagem carrega um charme perturbador na forma de se expressar e interagir com todos os 20 espectadores presentes em cada sessão. Contato feito olho no olho cria lágrimas de um universo em branco.
A peça é inspirada em uma estranha história que, em 2005, invadiu as manchetes de todo o mundo. Um jovem foi encontrado em uma praia inglesa, trajando um smoking molhado. Não falava nem lembrava de nada; só tocava piano.
A única lembrança do personagem é o fato de ter esquecido tudo. Recursos simples e impactantes – como utilizar giz branco para escrever memórias em uma parede branca – abrem as portas da angústia e introspecção. E você tem que participar disso. A única saída para tirar o constante nó em sua garganta é ajudar o protagonista com alguma lembrança. Boa ou ruim. Não é uma iniciativa obrigatória.
Guga Azevedo, especial para a Gazeta do Povo
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/festivaldecuritiba/conteudo.phtml?tl=1&id=1113343&tit=Dor-de-lembrar
A peça é inspirada em uma estranha história que, em 2005, invadiu as manchetes de todo o mundo. Um jovem foi encontrado em uma praia inglesa, trajando um smoking molhado. Não falava nem lembrava de nada; só tocava piano.
A única lembrança do personagem é o fato de ter esquecido tudo. Recursos simples e impactantes – como utilizar giz branco para escrever memórias em uma parede branca – abrem as portas da angústia e introspecção. E você tem que participar disso. A única saída para tirar o constante nó em sua garganta é ajudar o protagonista com alguma lembrança. Boa ou ruim. Não é uma iniciativa obrigatória.
Guga Azevedo, especial para a Gazeta do Povo
http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/festivaldecuritiba/conteudo.phtml?tl=1&id=1113343&tit=Dor-de-lembrar
Dê lugar à memória - Pollyanna Diniz
Homem piano - Uma instalação para a memória
O dia estava chuvoso, frio. Daqueles em que o cobertor é o melhor amigo. Mas o Festival de Curitiba já estava acabando e eu não tinha visto Homem piano – Uma instalação para a memória, que tinha sido indicada por alguns amigos jornalistas e produtores numa miscelânea de peças de qualidades bem variantes. Quem me deu o telefone da produtora foi até o Valmir Santos, já que a montagem era para poucas pessoas por sessão.
Saí de uma entrevista (que vcs ainda vão ler por aqui!) direto para a sede da CiaSenhas de Teatro, uma casa numa rua estreitinha, no Centro de Curitiba. As pessoas aguardavam na calçada. Márcia, a produtora, simpática, perguntou se era eu a Pollyanna. A garota ao lado, abraçada ao namorado, me contou que este ano não tinha aproveitado o festival. Que tinha ido ver poucas peças. “E porque escolheu essa?”, quis saber. “É de um amigo meu. Este ano tenho visto só as produções dos amigos”, explicou. Ela deve ter ficado orgulhosa do amigo.
A peça começa ali na rua mesmo. Quem não sabe o que está acontecendo, como a família que estacionou o carro para ir a algum lugar ali perto, estranha a movimentação. Somos convidados a entrar na casa e a resgatar nossas memórias, como faço ao escrever este post. Mas nem sempre memórias tão superficiais. O ator Luiz Bertazzo aguarda todos entrarem. E, noutras palavras, diz que tem muitas coisas que queremos esquecer. Tirar da memória. Na parede da escada, lápis e papeis pendurados. Pediu para que cada um escrevesse. Depois recolheu e picou todos com o movimento da hélice do liquidificador.
Subimos um ou dois andares, não lembro ao certo. Sei que não havia lugares para sentar, como normalmente. Estavam todos de pé, em silêncio e ebulição. O texto, de Sueli Araújo (que assina também a direção) nos fala basicamente de memória. De sentimentos. Do que queremos lembrar ou esquecer. De um homem que não tem memórias. Precisa da nossa ajuda. Noutra sala, pra terminar, podemos participar. Contar memórias em microfones. Sem que ninguém ouça. Só você mesmo. Pra ajudar, alguns papeis pediam lembranças relacionadas ao pai, a mãe, a um momento. Puxei de um deles uma memória antiga, mas que ainda dói. Fui ao microfone. Sai dali com vontade de chorar.
Criação é da curitibana CiaSenhas de Teatro
Um dos méritos do espetáculo é conseguir envolver o público. Seja pela ambientação do espaço cênico (como diz o programa), prioritariamente branca, pensada por Paulo Vinícius, ou pela interpretação de Bertazzo. Claro que isso é muito pessoal e depende de uma série de fatores. Mas o ambiente é sim propício à entrega. Há uma proximidade mesmo com a performance ou com a instalação das artes visuais. Mais do que uma peça, é um experimento. Não só para a companhia, que estreou o espetáculo em julho do ano passado, mas também para o público. Bom, pra conhecer mais um pouquinho da CiaSenhas de Teatro, em atuação desde 1999, vale dar uma olhadinha no site deles. Tem fotos lindas!
13/04/2011
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/tag/homem-piano-uma-instalacao-para-a-memoria/
O dia estava chuvoso, frio. Daqueles em que o cobertor é o melhor amigo. Mas o Festival de Curitiba já estava acabando e eu não tinha visto Homem piano – Uma instalação para a memória, que tinha sido indicada por alguns amigos jornalistas e produtores numa miscelânea de peças de qualidades bem variantes. Quem me deu o telefone da produtora foi até o Valmir Santos, já que a montagem era para poucas pessoas por sessão.
Saí de uma entrevista (que vcs ainda vão ler por aqui!) direto para a sede da CiaSenhas de Teatro, uma casa numa rua estreitinha, no Centro de Curitiba. As pessoas aguardavam na calçada. Márcia, a produtora, simpática, perguntou se era eu a Pollyanna. A garota ao lado, abraçada ao namorado, me contou que este ano não tinha aproveitado o festival. Que tinha ido ver poucas peças. “E porque escolheu essa?”, quis saber. “É de um amigo meu. Este ano tenho visto só as produções dos amigos”, explicou. Ela deve ter ficado orgulhosa do amigo.
A peça começa ali na rua mesmo. Quem não sabe o que está acontecendo, como a família que estacionou o carro para ir a algum lugar ali perto, estranha a movimentação. Somos convidados a entrar na casa e a resgatar nossas memórias, como faço ao escrever este post. Mas nem sempre memórias tão superficiais. O ator Luiz Bertazzo aguarda todos entrarem. E, noutras palavras, diz que tem muitas coisas que queremos esquecer. Tirar da memória. Na parede da escada, lápis e papeis pendurados. Pediu para que cada um escrevesse. Depois recolheu e picou todos com o movimento da hélice do liquidificador.
Subimos um ou dois andares, não lembro ao certo. Sei que não havia lugares para sentar, como normalmente. Estavam todos de pé, em silêncio e ebulição. O texto, de Sueli Araújo (que assina também a direção) nos fala basicamente de memória. De sentimentos. Do que queremos lembrar ou esquecer. De um homem que não tem memórias. Precisa da nossa ajuda. Noutra sala, pra terminar, podemos participar. Contar memórias em microfones. Sem que ninguém ouça. Só você mesmo. Pra ajudar, alguns papeis pediam lembranças relacionadas ao pai, a mãe, a um momento. Puxei de um deles uma memória antiga, mas que ainda dói. Fui ao microfone. Sai dali com vontade de chorar.
Criação é da curitibana CiaSenhas de Teatro
Um dos méritos do espetáculo é conseguir envolver o público. Seja pela ambientação do espaço cênico (como diz o programa), prioritariamente branca, pensada por Paulo Vinícius, ou pela interpretação de Bertazzo. Claro que isso é muito pessoal e depende de uma série de fatores. Mas o ambiente é sim propício à entrega. Há uma proximidade mesmo com a performance ou com a instalação das artes visuais. Mais do que uma peça, é um experimento. Não só para a companhia, que estreou o espetáculo em julho do ano passado, mas também para o público. Bom, pra conhecer mais um pouquinho da CiaSenhas de Teatro, em atuação desde 1999, vale dar uma olhadinha no site deles. Tem fotos lindas!
13/04/2011
http://www.satisfeitayolanda.com.br/blog/tag/homem-piano-uma-instalacao-para-a-memoria/
segunda-feira, 21 de março de 2011
FESTIVAL DE CURITIBA
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